O segredo na famosa fotografia da menina afegã

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Existem algumas fotografias que se tornaram ícones da humanidade. E comumente são conhecidas não apenas por aqueles que se dedicam ao estudo e prática fotográfica. Mas alcançaram um nível de senso comum das visibilidades que nos cercam. Seja pelo jornalismo, televisão, revistas, e até mesmo pelo imenso arquivo de informações visuais que a internet propicia. Onde as imagens se ligam continuamente a nossa rotina, trazendo consigo uma rede significados.
Quando fazemos uma foto, ao olharmos por intermédio de uma máquina em um pequeno buraco, fazemos um recorte do que vemos. É instituído um enquadramento, que emoldura e cria um vácuo de luz, que aprisiona a imagem. E assim como o foco trabalha com uma lógica de exclusão ao eleger um ponto de fixação sempre seletivo da percepção visual, o ato do clique, que gera a fotografia exclui uma infinidade de outras imagens, que se escondem para além da luz que lançamos ao objeto, que ao vir a ser fotografado, se materializa em imagem.
Portanto podemos afirmar que em meio à experiência fotográfica inevitavelmente imagens escondem outras imagens. Fotografias sempre escondem histórias por trás do que mostram. E nessa perspectiva que trago o famoso retrato e mundialmente conhecido da menina afegã fotografada por Steve McCurry, em 1984 em um campo de refugiados.
Os olhos verdes alarmados e penetrantes. Uma alusão ao que fez desta, uma grande imagem em circulação no mundo, o retrato dramático das vivências de um povo massacrado fisicamente e psicologicamente pelo efeito da guerra. Mas por trás dessa coletividade representada, existia uma menina. A menina que emprestou sua voz as lentes de Steve. Existia uma história interdita, que se proibia à medida que levava para os futuros espectadores do retrato, possíveis decifrações do que viam.
Segredo. Talvez seja está à palavra que acompanha algumas fotografias. É justamente isso o que sempre me atraiu no retrato da menina afegã. Era como se ela quisesse com os olhos me contar um segredo. Não o segredo de um povo, de uma guerra, de um massacre, o que é popularmente conhecido; mas algo mais íntimo, profundo e interno. O segredo de uma singularidade.
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Dezessete anos depois, uma equipe da National Geographic Television & Film, acompanhada do fotógrafo, realizou uma expedição pelo Paquistão para tentar localizar a menina. E eles a encontraram. Descobriu-se seu nome, Sharbat Gula, que era agora casada, sofrida, e ainda refugiada. Ao recriarem a imagem usando o mesmo enquadramento e ângulo desvelaram as marcas de um envelhecimento precoce devida as circunstâncias desoladoras de sua vida. Mas os olhos de Sharbat ainda estavam lá, gritando um segredo…
( Via Fotografe uma Ideia)